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O lugar que nos ocupa


Por Redação

Em “A cidade onde envelheço” (2017), filme de Marília Rocha, a jovem portuguesa Francisca, já residente no Brasil, recebe sua amiga Teresa, recém-chegada de Lisboa. Entretanto, mesmo vivendo há tempos no país, Francisca sente uma falta irreparável de sua terra natal. Há uma certa melancolia, retratada pela saudade de casa e o reconhecimento íntimo de que tal desconforto nada mais é do que a dificuldade de aceitar o novo país como seu. Além disso, esse desconforto evidencia não apenas um mal-estar provocado pelo distanciamento de seu lugar de origem, mas o seu lugar de origem que permanece pulsante dentro de si. Quando pensamos na ideia de lugar, é comum que a primeira referência que nos chegue, esteja relacionada aos lugares, nos quais ocupamos em diversas esferas no decorrer da vida. Entretanto, raramente nos damos conta de perceber o lugar que nos ocupa. Este lugar a costurar caminhos, pelos quais trilhamos nosso próprio trajeto. O lugar da memória, das lembranças, das páginas a compor nossa história. O lugar que nos constitui. Japeri, sempre foi referenciada como uma “cidade dormitório”; um lugar ali, escondido num cantinho da periferia fluminense, na última estação a desembarcar. Todavia, esse lugar, cujo nome teria se originado de “Yaperi”, termo tupi que significa “aquilo que flutua”, enuncia uma cidade que voa alto. Uma cidade que acorda cedo, partindo da primeira estação em busca do pão de cada dia. Mas não só. Essa cidade que se mantém acordada, contém em si, uma efervescência, uma enorme capacidade pulsional, onde a vida acontece. E essa efervescência, transborda em produção de linguagem, seja nas artes plásticas, na literatura, na dança, no teatro, na música e nas suas mais variadas expressões, a nos mostrar a cultura e a arte que nasce em Japeri. E é essa vida a pulsar pelas veias culturais da nossa cidade, que a mantém viva em nós, que nos traz esse sentimento de reconhecimento íntimo, como nos mostra a personagem Francisca. Se Guimarães Rosa dizia que “o sertão está dentro de nós”, ouso dizer, que Japeri está dentro de nós. Assim, posso dizer, que a cidade onde nasci, é a cidade onde envelheço.