O documentário “O Começo da Vida” estreou nos cinemas nacionais nesta última semana. Trata-se de uma iniciativa da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, da Fundação Bernard Van Leer, do Instituto Alana e do Fundo das Nações Un\idas para a Infância (UNICEF), com produção da Maria Farinha Filmes.

É um filme essencial, dado que aponta a definitiva importância da primeira infância na formação do indivíduo. Saliente-se que esta constatação tem como base estudos neurocientíficos realizados nas grandes universidades do mundo, como a de Harvard, por exemplo, onde pesquisadores estudam em profundidade como se forma a complexa rede de neurônios nos primeiros 2 anos de vida.

Trata-se, portanto, de uma constatação científica sobre as bases da arquitetura cerebral.  O fio condutor e o apelo emocional do filme materializam-se por meio de alguns relatos de pessoas, de seus núcleos familiares ou de suas experiências de vida, escolhidos a dedo nos continentes mais distantes e distintos do planeta, onde se experimentam as mais diversas culturas e hábitos de vida.

O filme deixa claro que, não obstante a intensa e profunda diversidade cultural e geográfica, o cuidado com as crianças nos primeiros 2 anos de vida e principalmente o vínculo afetivo que se estabelece com os cuidadores, sejam eles pai, mãe, avós, dois pais, duas mães, professores ou irmãos mais velhos são universais  e definitivos para a formação de uma  rede de neurônios mais robusta que, consequentemente, permitirá ao futuro adulto uma possibilidade mais ampla de  aptidões e habilidades em todos os setores.

É esta a mensagem que a neurociência nos transmite: o vínculo afetivo forte de um adulto cuidador com os pequenos, essencialmente nos dois primeiros anos de vida, é absolutamente fundamental para a formação do indivíduo sob os aspectos psicoemocionais e cognitivos.

Pesquisadores estimaram a seguinte conta: para cada dólar gasto com a primeira infância deve-se obter um lucro de 7 dólares no futuro, uma vez que se espera um indivíduo mais solidamente formado em sua rede de conexões neuronais.

Cuidar dos pequenos, estar presente e participar de seus literais primeiros passos em todos os setores da vida não é tarefa fácil. Ainda mais em um mundo onde as condições sociais e econômicas são difíceis para a maioria das pessoas, em todos os cantos do mundo.

Não é nada fácil suprir as necessidades essenciais de um núcleo familiar com crianças pequenas. Morar, comer, locomover-se e ter lazer são absolutamente essenciais para a vida normal e cotidiana de todos.  Os adultos necessariamente têm que trabalhar para conseguir isso. Para tanto, devem se organizar para deixar seus filhos pequenos em creches, berçários ou com cuidadores.

Para muitos não é nada fácil, sob o ponto de vista psicoemocional, deixar os filhos para ter que ganhar a vida. Sair cedo de casa, trabalhar o dia todo e voltar à noite, quando todos já estão cansados e querendo dormir dificulta uma convivência mais íntima entre as pessoas da família. Por outro lado, no mundo de hoje, ficar em casa com as infinitas (não acabam nunca mesmo), cansativas e repetitivas tarefas domésticas também não é muito estimulante para adultos jovens que cresceram tendo a realização profissional como uma de suas metas.

Conciliar, portanto, o que a neurociência nos ensina em relação ao vínculo e a importância do estar junto, supervisionar e “cuidar” dos filhos pequenos, especialmente aqueles com menos de 2 anos de idade e as exigências da vida e dos tempos modernos não é, definitivamente, tarefa fácil. Nem sob o ponto de vista prático nem sob a ótica das emoções.

Não é fácil ser um adulto jovem com filhos pequenos hoje em dia. Mas quem já passou por esta fase insiste que vale a pena. E recomenda fortemente.