O país vive um momento político turbulento. O clima está quente não apenas nos termômetros nacionais, mas também no dia a dia de todos nós. Com tanto acesso à comunicação, basta um “clic” qualquer e… pronto: as notícias nos chegam em tempo real. Em um momento de transição política, os ânimos dos atores e dos espectadores deste “show” estão fervendo. De um lado e de outro.

A economia do país paralisou-se e as previsões são difíceis e incertas a curto e médio prazos. O desemprego e a falta de perspectiva para conseguir trabalho já é real para muitas famílias.

A saúde vai de mal a pior. Os agentes infecciosos não nos dão trégua. Dengue, chikungunya, zika e o surto antecipado de influenza que provoca filas nos postos de vacina e mortes nos corredores lotados dos hospitais. As imagens do bebês microcéfalos e dos doentes sem assistência médica nos chocam e angustiam.

Os pacientes que  só tem a saúde pública para recorrer sabem que o sofrimento e a angústia com a doença se intensificam e se potencializam ante a constatação da falência do sistema, do descaso e do abandono com que são tratados.

Este clima tenso e de insegurança com o futuro, que reflete inevitavelmente em  nosso núcleo  familiar,  afeta diretamente nossa saúde. A tensão e o estresse passam a fazer parte de cada segundo da nossa vida. E muitas vezes nem percebemos isso direito. Mas lá está ele, às vezes silencioso e escondido, outras vezes de forma mais escancarada, acelerando nossos batimentos cardíacos, nossos movimentos respiratórios e nos tirando a paz.

A crise política, econômica e na  saúde nos deixa angustiados, tensos e estressados.  Aí é que está o problema: isso não é bom para o organismo. Vamos entender por que.

Há três níveis de estresse. Como se fossem  as luzes de um semáforo de trânsito.

O primeiro nível – o estresse “verde”– é considerado o stress “do bem”.  É aquele que nos impulsiona para frente, para a luta. Quando temos, por exemplo, uma prova ou um jogo difícil. Ficamos estressados. O organismo passa a liberar uma quantidade maior de adrenalina que nos impulsiona a estudar ou a nos preparar para o jogo. Isso é positivo. Encaramos a “luta”. Ao final, a liberação de adrenalina e de outros hormônios cessa e voltamos ao normal: o estresse acaba.

O segundo nível, ou o estresse “amarelo”, acontece quando passamos por situações mais prolongadas de sofrimento, sem data para acabar. Seja por causa de uma perda, por indefinições ou incertezas angustiantes, como, por exemplo,  romper um casamento, falecimento de um familiar ou amigo próximo, conviver com um diagnóstico não favorável ou sofrer diretamente as consequências desta situação de instabilidade e insegurança por que passa o país: perder o emprego ou saber-se impossibilitado de receber assistência médica decente para si mesmo ou para pessoas da família, crianças incluídas, caso estejam com suspeita de quaisquer doenças.

O terceiro nível é o estresse “vermelho”, ou chamado estresse tóxico. Este é o nível mais deletério e constante de estresse, que pode, em crianças em crescimento, destruir conexões neuronais já estabelecidas, comprometendo irreversivelmente os pequenos. São os casos extremos de violência familiar, abuso sexual, negligência ou abandono, por exemplo.

Muitos brasileiros estão vivendo um nível de estresse “amarelo”. Resultado: o humor fica mais lábil e muito mais explosivo. O nervosismo e a intolerância com o próximo ficam mais evidentes. A chance de infartos e de acidentes vasculares aumenta. Crises de ansiedade e até de depressão ficam mais favorecidas em um ambiente pouco acolhedor.

Neste cenário, o impeachment pode, sim, fazer bem para a saúde. Trás consigo  uma perspectiva de mudança, de finitude de um momento que foi deletério e que gerou tantas consequências negativas. Aponta – ainda que remotamente –  para uma possibilidade de recuperação. Por isso, esta semana que começa acena com novos ares. Respiremos!